"A morte não me assusta.
O que me assusta é a vida.
Porque tem a inveja, tem o mal."Manoel, tal como o Rei, em boa grafia do início do século em que nasceu, o XX, faz jus às centenárias árvores que apadrinham o seu sobrenome. O Realizador, ainda e sempre em actividade, celebra hoje 100 anos de vida – mas o mais notável é celebrá-los com uma notável robustez e uma invejável lucidez.
Confesso que não sou fã do seu trabalho mais recente - o seu
cinema de autor, tal como as célebres
Tripas à moda da sua terra natal, não é de digestão fácil e o Realizador centenário está ciente disso.
Manoel D'Oliveira, enquanto Realizador, não só teve de desbravar caminho como ainda teve de atravessar as malhas da censura; pelo que um cinema de consumo imediato não é uma das suas prioridades.
Pode-se, portanto, não se lhe levar a mal os planos XXL e os diálogos exasperantes, mas quanto a mim, nem toda a gente viverá tantos anos como o Realizador, pelo que alguns de nós temos que nos contentar com outras obras...
Dito isto, não posso deixar de lhe ficar grato pelo seu contributo inicial para a história cinematográfica nacional. O Porto e o Douro também lhe devem eterna gratidão, por os ter eternizado em pelicula, num retrato vívido dos anos 30-40.
Resta pois filmar a sua auto-biografia, um século de estórias, que nem sempre começam atrás de uma camera, mas também à frente dela e ao lado desse outro Grande Português, Vasco Santana - só isso já daria manchete, mas muitas mais tiveram lugar numa vida bem preenchida, como atleta campeão de Salto à Vara, piloto de automóveis ou homem de negócios.
Pegando nas suas palavras e dando-lhes um pequeno
twist, o que assusta é descobrir que não vivemos todos uma vida tão preenchida e que valha tanto a pena ser vivída.