domingo, janeiro 31, 2010

10 Milhões de Euros Não Apagam a Verdade



"O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os carácteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo. A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências. Diz-se por toda a parte: o país está perdido!?"

                                                            Citação de Eça de Queiroz: 1871 primeiro número de "As Farpas",

Qualquer Semelhança com um pais real junto a si, é, com certeza, pura coincidência.
E foi preciso 100 anos, assassínio, perseguição, emigração, ditadura, Pide, censura, o 25 de Abril e agora €10.000.000.00 para se perceber que afinal, estamos na mesma, senão pior que há 100 anos!?...

O Verdadeiro 'Sem-tenário' da República



O 5 de Outubro, enquanto era só feriado e servia para meia-dúzia de emproados sairem à rua em formalidades boçais e o resto do pessoal descansava, tudo bem; agora, 10 MILHÕES de Euros para estourar no 'Sem-tenário'? Para quê?

Sem prejuízo dos ideais e crenças de cada qual, o que está aqui em causa é o dispêndio de uma quantia significativa de dinheiro dos contribuintes para fins injustificados, quando o país tem outras necessidades/prioridades.


Quer do ponto de vista histórico, quer político, quer social, o 5 de Outubro é uma data que merece tanto ser comemorada como o Terramoto de 1755 ou o início da Guerra do Ultramar - todos estes acontecimentos tiveram consequências nefastas - causaram mortes, destruição, pobreza, levaram milhares à fuga e à emigração, etc.

Mau grado o péssimo conhecimento que os Portugueses têm deste período da História, muito romanceado, reflectindo friamente sobre o que foram estes últimos 100 anos, basta lembrar que apenas desde 1974 o país reencontrou uma normalidade democrática, plena de liberdade - a '3ª República’.

Sendo assim, então o que se comemora, afinal?

Onde é que estão os 100 anos?

Se se pretende comemorar uma efeméride, tudo bem, mas não contem com a contribuição popular, involuntária, de €10.000.000.00 para uma efeméride mal explicada, que deu origem a um dos períodos mais sombrios da História Nacional.